Eu queria entender aquela menina. Entender o porquê daquela tristeza, daqueles olhos fundos revelando que as noites mal dormidas vêm de meses a fio. E que as poucas noites de sono profundo e sem sonhos são graças ao álcool, eterno companheiro das horas difíceis. Horas difíceis que parecem não ter fim para ela. Com seus vinte anos recém completados, parece perdida. Chora, porque fica sozinha mais tempo do que gostaria. Sufoca, porque não aguenta mais as mesmas pessoas de sempre, os mesmos lugares e os amores práticos que parecem ter dominado o mundo. Vem emagrecendo a olhos vistos, mas ninguém parece perceber. Só eu. Só eu consigo enxergar a dualidade dilacerante que aquela menina vive e eu realmente queria entendê-la. Às vezes está feliz, estupidamente feliz, e tudo o que quer é gritar que a vida é linda, linda de se viver! Mas às vezes fica muda, fumando um cigarro atrás do outro e se entupindo de cafeína. Por horas a fio. Por dias a fio. E é nessas horas que ela fica apagada, sem cor, sem brilho. Percebo que esses dias duram mais do que os outros, do que os felizes. E assim ela volta a beber demais, os olhos fundos cada vez mais fundos, ela cada vez mais magra. Às vezes me olha, aquele olhar longo e meio vago, como se me dissesse:
"Eu não sou tão triste assim.
É que hoje eu estou cansada..."
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